A comunicação desempenha um papel fundamental no ambiente educacional, mas, muitas vezes, as dinâmicas de comunicação nas escolas podem ser permeadas por conflitos, tensões e mal-entendidos que afetam negativamente o ambiente de aprendizado. Então, é aí que entra a necessidade da comunicação não violenta na escola.
Como uma abordagem eficaz para melhorar o diálogo, promover a empatia e construir relacionamentos saudáveis entre alunos, professores e toda a comunidade escolar, a CNV é essencial na educação.
Por isso, este artigo abordará o conceito de Comunicação Não Violenta (CNV), seu potencial impacto nas escolas e as estratégias práticas para sua implementação com 10 exemplos de aplicação em sua escola. Boa leitura!
O que é comunicação não violenta?
A ideia de comunicação não agressiva, comunicação assertiva e, por fim, a comunicação não violenta foi inspirada pelo próprio Mahatma Gandhi.
Arun Gandhi, neto do filósofo, criou o instituto da não violência e, a partir desse ponto, o discurso não violento foi se popularizando aos poucos.
Nesse sentido, quem estruturou a CNV foi Marshall B. Rosenberg, um psicólogo clínico e mediador norte-americano.
Ele criou a comunicação não violenta na década de 1960 como um processo de comunicação e resolução de conflitos que se concentra na:
- empatia,
- expressão honesta de sentimentos e necessidades e
- construção de relacionamentos saudáveis.
Por isso, a CNV tem sido amplamente adotada em diversas áreas, incluindo educação, mediação, terapia, relações interpessoais e resolução de conflitos, devido à sua eficácia na promoção da compreensão mútua e na redução de conflitos destrutivos.
A comunicação não violenta considera que os ataques emocionais destroem mais que os físicos e são a motivação para a violência física.
Assim, pelo poder destrutivo da comunicação, é preciso aprender a se comunicar de forma não violenta, especialmente nas escolas.
Quem deve usar a comunicação não violenta na escola?
A comunicação não violenta na escola deve ser utilizada por todos, mas especialmente pelos professores e funcionários da escola. Veja como ela é útil para cada um dos grupos da comunidade escolar:
Professores
A utilização da Comunicação Não Violenta (CNV) por parte dos professores é de extrema importância por que:
- Promove melhoria do ambiente de aprendizado: Isso contribui para um clima mais propício à aprendizagem, pois os alunos se sentem mais à vontade para expressar suas dúvidas e pensamentos sem medo de ouvir uma resposta ríspida do professor.
- Resolução construtiva de conflitos: Em salas de aula, onde as diferenças de opinião e mal-entendidos podem surgir regularmente. Por isso, a CNV ajuda a evitar confrontos prejudiciais e promover um diálogo empático.
- Confiança: Os alunos se sentem mais apoiados emocionalmente pelos professores.
- Exemplo: Os estudantes veem os professores como um exemplo de empatia a ser seguido, o que os estimula desenvolverem sua própria empatia.
- Prevenção de situações de bullying: A CNV pode ajudar a prevenir o bullying, pois ensina os alunos a se expressarem de maneira não violenta e a reconhecerem as necessidades e sentimentos dos outros.
- Promoção da igualdade e inclusão: A CNV enfatiza a importância de ouvir atentamente as vozes de todos, independentemente de sua origem étnica, socioeconômica, gênero, ou outras características.
No geral, um professor que usa a comunicação não violenta na escola proporciona um ambiente escolar mais feliz e empático.
Coordenação pedagógica
A utilização da Comunicação Não Violenta (CNV) por parte da coordenadora pedagógica é igualmente importante, pois desempenha um papel crucial na promoção de um ambiente educacional saudável e eficaz.
Assim como os professores, a coordenação deve ser um exemplo de empatia e diálogo para os alunos, mas também ser o modelo para o corpo docente.
Além disso, a CNV capacita a coordenadora pedagógica a mediar e resolver esses conflitos de maneira construtiva, ajudando a manter um ambiente de trabalho harmonioso e colaborativo, proporcionando também suporte emocional aos professores.
Dessa forma, como resultado, há também uma melhora na relação com os pais, pois ela facilita as conversas difíceis.
Funcionários da escola
A Comunicação Não Violenta nas escolas é benéfica também para os demais funcionários, desde os monitores até as cozinheiras, isso porque:
- Melhora do clima de trabalho: um ambiente em que os funcionários se sentem valorizados e ouvidos é um lugar mais trabalhoso para se trabalhar.
- Resolução de conflitos: Os monitores frequentemente lidam com situações desafiadoras envolvendo os alunos ou colegas de trabalho. A CNV oferece ferramentas para resolver esses conflitos de maneira construtiva, evitando escaladas desnecessárias e promovendo soluções que beneficiem a todos, inclusive tornando a comunicação com os alunos mais eficaz.
- Melhoria das relações interpessoais: A CNV fortalece as relações entre colegas de trabalho, promovendo uma compreensão mais profunda.
Competências socioemocionais da BNCC e a comunicação não violenta nas escolas
A Base Nacional Comum Curricular apresenta 5 competências socioemocionais que precisam ser trabalhadas ao longo da jornada escolar, sendo elas:
A Comunicação não violenta nas escolas têm relação com cada uma delas.
Autoconsciência
A comunicação não violenta orienta que o usuário faça uma profunda análise das emoções e sentimentos que sente e das que sentiu antes de dar qualquer resposta.
Isso está totalmente relacionado com a autoconsciência, que é a capacidade de reconhecer e compreender nossas próprias emoções, sentimentos, pensamentos e comportamentos.
É preciso nomear as emoções antes de pensar em uma resposta ou forma de agir com alguém. Deve-se nomear medo, insegurança, raiva, inveja, amor ou qualquer outra coisa.
Além disso, a CNV também promove o autocontrole emocional, pois ensina a expressar nossos sentimentos e necessidades de maneira construtiva, em vez de reagir impulsivamente de forma agressiva ou prejudicial.
Autogestão
Além disso, a CNV também promove o autocontrole emocional, pois ensina a expressar nossos sentimentos e necessidades de maneira construtiva, em vez de reagir impulsivamente de forma agressiva ou prejudicial.
Para isso, a pessoa precisa aprender a gerenciar suas próprias emoções e desenvolver o domínio-próprio.
Consciência social
A comunicação não violenta tem como princípio a ideia de que não sabemos pelo que os outros passam, por isso precisamos ser empáticos.
Como aquela famosa frase do filme extraordinário: “Seja gentil, porque todo mundo enfrenta uma batalha”.
Dessa forma, ao aprender a aplicar a CNV, a pessoa desenvolve mais consciência social por buscar entender melhor as dificuldades de todos os ao seu redor.
Habilidades de relacionamento
É claro, utilizar a comunicação não violenta na escola melhora as habilidades de relacionamento, já que a pessoa aprende a:
- Se comunicar de forma assertiva;
- Expressar seus sentimos apenas depois de reflexão;
- Não gritar e não explodir;
- Valorizar o diálogo;
- Ter empatia.
Com isso, as habilidades de relacionamento interpessoal melhoram muito, pois essas são as bases de uma boa comunicação.
Tomada de decisão responsável
A CNV ensina a pessoa a pensar nas consequências de seus atos com relação aos outros, por isso, ajuda também na tomada de decisões responsáveis.
Além disso, a comunicação não violenta nas escolas encoraja a empatia não apenas pelos outros, mas também por nós mesmos.
Ao entender nossos próprios sentimentos e necessidades, desenvolvemos uma maior compreensão e compaixão por nossas próprias experiências emocionais.
Com isso, é possível tomar decisões mais responsáveis respeitando os desejos, os sentimentos e os limites próprios e dos demais.
Qual a importância da comunicação não violenta na escola?
A Comunicação Não Violenta (CNV) desempenha um papel significativo na escola, contribuindo para um ambiente de aprendizado mais saudável e positivo. Aqui estão quatro motivos pelos quais a CNV é importante na escola:
Diminuição do Bullying
A CNV ensina os alunos a expressarem suas necessidades e sentimentos de maneira respeitosa e a ouvir os outros com empatia. Isso ajuda a criar um ambiente escolar em que os conflitos são resolvidos de maneira construtiva, em vez de recorrer ao bullying.
Além disso, os alunos que desenvolvem habilidades de CNV são mais propensos a reconhecer atitudes prejudiciais.
Ou seja, eles conseguem perceber com mais facilidade quando alguém está cometendo ou sofrendo bullying e quando eles mesmos estão prejudicando outra pessoa.
Redução de Traumas Emocionais
A comunicação não violenta na escola promove a empatia e o cuidado com o bem-estar emocional de todos os envolvidos, incluindo alunos, professores e funcionários.
Isso pode reduzir traumas emocionais, pois as pessoas se sentem ouvidas, compreendidas e apoiadas em suas experiências.
Ambiente Mais Feliz
Quando a CNV é incorporada na cultura escolar, ela contribui para um ambiente mais positivo e feliz.
Alunos se sentem mais seguros, valorizados e respeitados, o que melhora seu bem-estar emocional.
Além disso, professores e funcionários também experimentam menos estresse devido a conflitos, criando um ambiente de trabalho mais agradável.
As 4 etapas da comunicação não violenta na escola
De acordo com Marshall Rosenberg, a comunicação não violenta tem 4 etapas, não necessariamente precisam ser aplicadas em ordem, pois a pessoa sempre pode voltar para uma etapa anterior se não se sentir seguro.
As etapas são: observação, análise do sentimento, análise das necessidades e, por último, pedido.
Veja cada uma delas em seguida:
Observação
Nessa primeira etapa, é preciso observar o que de fato está acontecendo na situação. São válidas perguntas como:
O que os outros estão fazendo enriquece a nossa vida ou não?
O que os outros estão dizendo é bom para a gente?
Por que essa situação está acontecendo?
O que é o problema aqui?
É importante observar sem expressar julgamentos, por isso observar é diferente de analisar.
Normalmente, quando analisamos ao observar, as pessoas vão entender como crítica, o que pode piorar a situação.
Inferir o que uma pessoa está pensando também não é uma observação.
Comunicação | Avaliação (incorreto) | Observação (correto) |
Verbos que indicam avaliação, generalização | Você vive deixando as coisas para depois | Você só estuda para a prova no dia anterior |
Colocar a sua opinião como a única alternativa | Você não vai passar. | Acho que talvez você não consiga passar por causa de X e Y. |
Confundir previsão com certeza | Se você não comer isso, vai ficar doente. | Tenho medo que, se você não comer isso, possa ficar doente por falta de nutrientes. |
Sentimento
O primeiro componente da CNV é observar sem avaliar, agora o segundo é expressar corretamente quando nos sentimos.
Nem sempre na sociedade os sentimentos são valorizados, pois, em um mundo capitalista, seus resultados valem mais do que seus sentimentos.
Por consequência, muitos de nós temos dificuldades em perceber e compreender o que estamos sentindo.
Por isso, nessa segunda fase da Comunicação não violenta, é importante analisar os próprios sentimentos, e não os dos outros!
Em vez de | Diga |
Sinto que você já deveria saber isso! | Estou insegura. |
Sinto como se vivesse com uma parede. | Sinto-me solitário. |
Sinto que não aguento mais essa sala! | Estou me sentindo cansada. |
Sinto que sou uma péssima professora. | Sinto insegurança quanto à qualidade de minhas aulas. |
Devemos colocar uma diferença clara entre o que sentimos e o que achamos que os outros sentem, reagem ou se comportam ao nosso respeito.
Alguns “sentimentos” na verdade não são nossos sentimentos, mas sim a forma como interpretamos a relação dos outros com a gente. Palavras como:
- Ignorado;
- Criticado;
- Pressionado;
- Usado,
Demonstram a percepção quanto aos outros, não quanto aos próprios sentimentos. Frases como: me sinto chateado; me sinto triste; me sinto solitário são mais coerentes ao expressar sentimentos.
Necessidades
Então, a partir dessa análise dos seus próprios sentimentos, vem o momento de identificar qual necessidade não foi suprida.
Sentimento | Necessidade |
Sinto-me solitário. | A conexão emocional atual não é suficiente. |
Estou me sentindo cansada. | Não tenho repouso o suficiente. |
Estou insegura. | Não recebi as respostas que esperava. |
Assim, a partir dessas necessidades, deve-se organizar os pensamentos para a última etapa: o pedido.
Pedido
Nesta última etapa, é o momento de resposta, todo o processo de CNV culmina aqui.
A solicitação deve ser feita de forma específica, clara, assertiva. Deve-se evitar frases abstratas, ambiguidade, julgamento, alfinetadas etc.
Além disso, a elaboração de um pedido claro e sincero ao outro, buscando o atendimento das nossas necessidades, envolve também reconhecer e respeitar os sentimentos e necessidades da pessoa que recebe o nosso pedido.
Por isso, expressar o pedido não implica a sua execução, pois a pessoa pode recusar e devemos respeitar essa escolha.
Comunicação violenta | Comunicação não violenta |
Você não se esforça! Vai reprovar de ano! | Reparamos que suas notas estão baixas, isso nos preocupa pois queremos que todos os estudantes passem de ano e sejam felizes, você pode fazer um compromisso com a gente para se esforçar para melhorar suas notas? |
Você não entende nada do que eu explico! | Percebi que, durante minhas explicações, você fica incomodada e isso me deixa insegura. Você pode me dizer o que está incomodando você e como eu posso explicar de forma mais efetiva para você? |
Você não faz nada na escola! | Nas últimas X atividades, percebi que você não fez nenhuma. Quer tentar fazer esta agora? |
Como aplicar a comunicação não violenta na escola
Vários exemplos das tabelas anteriores envolvem o ambiente escolar, mas, além deles, quais seriam formas claras de aplicar a CNV na escola?
- Não gritar com os alunos ou com professores: na verdade, o ideal é não gritar com ninguém! Muitas vezes, quando gritamos, estamos expressando críticas, julgamentos e ataques, e não foi feito um processo de reflexão.
Além disso, o próprio gritar é uma violência, é uma imposição. - Estimule o diálogo: em vez de brigas, é necessário estimular o diálogo, seja de você mesmo com elas ou entre os próprios alunos.
Faça perguntas, investigue o que está incomodando e o motivo do conflito. Dessa forma, é possível utilizar o diálogo como forma de resolver os problemas. - Faça acordos claros: o pedido é a última parte da CNV e, na escola, podemos utilizar isso através de acordos.
Faça um contrato pedagógico com os alunos e com os professores, cheguem a um consenso através do diálogo e deixem isso por escrito para que ninguém se esqueça. - Puna menos, ouça mais: normalmente, como a escola é um ambiente hierárquico, temos a tendência de punir antes de ouvir. No entanto, essa ordem precisa ser invertida.
Ouça mais aos seus alunos e puna menos.
10 exemplos de comunicação não violenta na escola
Para exemplificar, veja abaixo uma tabela com 10 exemplos de comunicação não agressiva para aplicar na sua escola.
Conclusão
A comunicação não violenta nas escolas é crucial para o desenvolvimento de um ambiente seguro e acolhedor.
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Referências
A importância da comunicação não violenta na realização do processo de autoconhecimento