Distúrbios de aprendizagem são cada vez mais comuns nas escolas e traz desafios aos professores e funcionários que, muitas vezes, não entendem esses distúrbios e nem como lidar com eles e dificultam a inclusão.
A sala de aula é o lugar mais propício para que essa observação de desenvolvimento cognitivo aconteça.
Responsáveis e educadores devem estar atentos aos sinais, para que a criança não fique anos na escola, sem conseguir aprender o básico e se sinta desmotivada por não conseguir acompanhar a matéria ou até mesmo se adaptar aos colegas de classe e à dinâmica da aula.
Por isso, este artigo tem por objetivo esclarecer sobre os transtornos de aprendizagem mais comuns, para que, com uma identificação e intervenção precoce, possam ser trabalhados de forma eficiente para que seus efeitos sejam minimizados.
Boa leitura!
O que é aprendizagem?
A aprendizagem é um processo que nos permite entender melhor as coisas à nossa volta, através do qual consolidamos, adquirimos e reestruturamos conhecimentos.
É um processo que começa ao ganharmos a vida e se encerra com ela, ou seja, é ato contínuo que ocorrerá durante toda nossa existência.
Basta observarmos ao nosso redor para constatar facilmente que a supracitada afirmação está correta:
- crianças aprendem a falar e andar, depois ler e escrever.
- Crescemos e vamos construindo nossa aprendizagem básica para uma participação efetiva e ativa na sociedade como um todo.
- Quando adultos aprendemos um ofício que nos garantirá sustento.
- Ao envelhecermos, além de consolidarmos conhecimentos já adquiridos, construímos novos e podemos continuar a aprender coisas mais complexas, como um novo idioma ou uma nova profissão.
Portanto, estamos o tempo inteiro imersos no processo de aprendizagem, seja ele formal ou não.
O processo de aprendizagem provoca, de modo geral, uma interação do indivíduo com o meio, captando e processando os estímulos, implicando em respostas comportamentais envoltas em um contexto social e a interdependência de processos emocionais e cognitivos.
Logo, há uma relação direta entre o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem.
Além disso, olhando sob o prisma do desenvolvimento geral do indivíduo, observa-se que esse desenvolvimento é o resultado das potencialidades genéticas e de habilidades adquiridas durante as diversas fases da vida.
O que são distúrbios de aprendizagem?
Os distúrbios de aprendizagem são condições que afetam a forma como uma pessoa adquire, organiza, retém ou usa informações. Esses distúrbios podem afetar habilidades específicas, como leitura, escrita, matemática ou habilidades cognitivas mais amplas, como a memória ou o processamento de informações.
Os distúrbios de aprendizagem não são causados por fatores como falta de inteligência ou oportunidades educacionais inadequadas.
Eles são de natureza neurobiológica e podem ser influenciados por fatores genéticos.
Além disso, podem variar em gravidade e impacto, sendo que cada indivíduo pode apresentar um padrão único de dificuldades de aprendizagem.
Em suma, lesões e disfunções cerebrais acabam por interferir no processamento de informações diretamente ligadas à aprendizagem, como a recepção, integração e expressão.
Nesse sentido, os transtornos de aprendizagem representam a consequência de um transtorno na organização funcional do sistema nervoso central, em geral de caráter leve, mas com consequências de considerável importância para o futuro social da criança, já que perturbam a conduta pedagógica esperada de acordo com sua inteligência normal.
Por isso, é importante que seja feita uma avaliação diagnóstica assim que alguns sinais de anormalidade sejam verificados, para que se possa, se for o caso, começar o quanto antes os procedimentos para atenuar o problema.
Para que se possa ficar atento aos sinais, é preciso antes de tudo conhecê-los.
Qual a diferença entre transtorno de aprendizagem e dificuldade de aprendizado?
Todos nós conhecemos pessoas que aprendem mais rápido, e outras que demoram um pouco mais e apresentam dificuldades em acompanhar o que se está ensinando.
O problema se instaura quando essa dificuldade se torna frequente.
Por isso, é preciso que fique claro que há uma diferença entre dificuldade de aprendizado e distúrbio de aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem referem-se a dificuldades específicas que uma pessoa pode ter em uma área particular de aprendizado, como leitura, escrita ou matemática.
Essas dificuldades podem ser resultado de vários fatores, como falta de prática, método de ensino inadequado ou distrações no ambiente de aprendizagem.
Por isso, as dificuldades de aprendizagem geralmente podem ser superadas com estratégias de ensino específicas e suporte adicional.
Por outro lado, os distúrbios de aprendizagem são condições neurobiológicas que afetam a forma como uma pessoa processa informações e adquire habilidades acadêmicas.
Esses distúrbios são de natureza mais duradoura e podem exigir intervenções mais intensivas e especializadas.
Além disso, eles podem afetar outras áreas cognitivas além do aprendizado acadêmico, como a memória ou o processamento de informações.
Segundo estimativas, cerca de 41% dos alunos de séries iniciais têm dificuldade para aprender, sendo que dentre essa porcentagem, de 4% a 6% têm distúrbios de aprendizagem de origem neurobiológica.
Quais os principais distúrbios e transtornos de aprendizagem?
Existem diversos tipos de distúrbios e transtornos de aprendizagem, neste artigo vamos abordar 3 dos principais deles, sendo:
- Dislexia;
- Discalculia;
- TDA e TDAH.
Dislexia
Dislexia é um transtorno de aprendizagem de origem neurobiológica, em que o indivíduo apresenta dificuldade no reconhecimento de palavras, soletração e habilidade de decodificação.
Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas (Definição adotada pela IDA).
A dislexia não é uma doença como o sarampo, que pode ser claramente diagnosticada ou não. Similarmente, o reconhecimento de que existe uma linha contínua indo desde a boa leitura até a leitura disléxica não invalida o conceito da dislexia ou evita que suas causas sejam buscadas.
Os sinais podem ser notados mesmo antes da idade escolar, como: desenvolvimento da atenção e coordenação motora fracos, atraso nos avanços 12 referentes a fala e linguagem, dificuldade em aprender rimas e músicas, dispersão e falta de interesse por livros.
São sinais de alerta para a avaliação de dislexia:
- Dificuldades na alfabetização;
- Problemas para ler e escrever;
- Problemas de orientação espacial;
- Dificuldade na compreensão de textos;
- Falta de atenção às aulas.
- Problemas em adquirir e automatizar a leitura e a escrita, o que acaba gerando dificuldade em copiar de livros e do quadro;
- Conhecimento de rimas e aliterações bem fracas;
- Desatenção e dispersão;
- Dificuldade na coordenação motora fina e/ou grossa;
- Dificuldade no manuseio de mapas, dicionários, etc.;
- Vocabulário pobre (com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas);
- Desorganização geral, que implica em constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares e perda de seus pertences;
- Confusão entre esquerda e direita.
Discalculia
A discalculia é um transtorno de aprendizagem causado por uma má formação neurológica que afeta o aprendizado de números e conceitos matemáticos.
Ou seja, a discalculia é um termo que se refere a uma dificuldade específica em aprender ou compreender conceitos matemáticos. Ela é análoga à dislexia, mas em vez de afetar a leitura e a linguagem, afeta as habilidades matemáticas.
Apesar de ser identificável desde muito cedo, é na escola que os sinais se tornam mais explícitos, pois as exigências envolvendo esse tipo de atividade matemática são maiores e rotineiras.
Estima-se que 1% das crianças tem discalculia e é comum que haja relatos de pais ou parentes próximos que tenham a mesma dificuldade, o que nos leva a refletir se é um problema geneticamente determinado.
Ladislav Kosc realizou um estudo pioneiro sobre o tema em que afirmou que a discalculia pode se revelar sob vários tipos de combinações e pode andar junto a outros distúrbios de aprendizagem, como por exemplo o TDAH (Transtorno do Défict de Atenção e Hiperatividade).
Além disso, existem 6 tipos de discalculia, sendo eles:
Discalculia Léxica
Nesse tipo de transtorno de aprendizagem, a pessoa apresenta dificuldade em ler símbolos matemáticos como números, operações e fórmulas.
Essa condição afeta a capacidade de ler, escrever e interpretar corretamente os elementos matemáticos, o que pode levar a erros frequentes e à falta de fluência na resolução de problemas matemáticos.
Além disso, indivíduos com discalculia léxica podem ter dificuldades na memorização de fatos matemáticos e na compreensão de conceitos matemáticos mais avançados.
É importante reconhecer que a discalculia léxica é uma dificuldade específica e não está relacionada à falta de habilidade matemática geral.
Portanto, pessoas com discalculia léxica podem ter habilidades matemáticas sólidas em outras áreas, como raciocínio lógico ou resolução de problemas não relacionados à leitura e escrita de termos matemáticos.
Discalculia verbal
Pessoas com o distúrbio de aprendizagem da discalculia verbal têm dificuldades específicas na compreensão e no uso da linguagem verbal relacionada a conceitos matemáticos, como termos, instruções e problemas matemáticos.
Essa condição afeta a capacidade de compreender e traduzir corretamente a linguagem matemática em processos e procedimentos numéricos.
Indivíduos com discalculia verbal podem ter dificuldades em entender palavras e frases matemáticas, interpretar instruções escritas em problemas matemáticos e expressar verbalmente conceitos matemáticos.
Discalculia gráfica
Crianças com o transtorno de aprendizagem da discalculia gráfica enfrentam problemas na organização de símbolos matemáticos (e às vezes na escrita), como números, operações e fórmulas.
Essa condição afeta a capacidade de escrever e representar corretamente os elementos matemáticos, levando a erros frequentes e à falta de clareza na resolução de problemas matemáticos.
Além disso, indivíduos com discalculia gráfica podem ter dificuldades na identificação e alinhamento adequado de símbolos e na organização espacial de elementos matemáticos.
Por exemplo, um indivíduo com discalculia gráfica pode ter dificuldades em escrever números de forma clara e organizada.
Eles podem cometer erros frequentes na escrita e no alinhamento dos números, tornando difícil a leitura correta e a interpretação, como na imagem abaixo.
Discalculia operacional
Estudantes com discalculia operacional têm dificuldade para executar operações matemáticas, como adição, subtração, multiplicação e divisão.
Essa condição afeta a capacidade de realizar corretamente as operações matemáticas básicas e pode resultar em erros frequentes e dificuldades na resolução de problemas matemáticos.
Isso porque indivíduos com discalculia operacional têm dificuldades em lembrar e aplicar corretamente as regras e procedimentos necessários para realizar as operações matemáticas.
Discalculia practognóstica
Esse transtorno de aprendizagem envolve dificuldade para enumerar, manipular e comparar objetos reais ou em imagens.
Pessoas com discalculia practognóstica podem ter dificuldades em lembrar os fatos matemáticos básicos, usar corretamente os símbolos matemáticos e realizar operações matemáticas de forma precisa. Essa forma de discalculia está mais relacionada a dificuldades na execução das operações matemáticas.
Discalculia ideognóstica
A discalculia ideognóstica, também conhecida como discalculia de conceito ou discalculia semântica, é um tipo de discalculia que afeta a compreensão e o significado dos conceitos matemáticos.
Em suma, pessoas com discalculia ideognóstica têm dificuldades em entender o que os números e símbolos matemáticos representam e como eles se relacionam entre si.
Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno multifatorial, neurobiológico crônico associado a uma disfunção no Lobo Pré-Frontal.
Quando essa área do córtex cerebral tem seu funcionamento comprometido, surgem as dificuldades de concentração, hiperatividade e impulsividade, sintomas do TDAH.
Apesar de muitas pessoas questionarem se o TDAH realmente existe, ele é oficialmente reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A atenção comprometida é manifestada por interromper tarefas prematuramente e por deixar atividades inacabadas. Ou seja, as crianças mudam frequentemente de uma atividade para outra, parecendo perder o interesse em uma tarefa porque se distraem com outras.
Esses déficits na persistência e na atenção devem ser diagnosticados apenas se forem excessivos para a idade e QI da criança.
Além disso, a hiperatividade implica inquietação excessiva, em especial em situações que requerem calma relativa.
Pode, dependendo da situação, envolver correr e pular ou levantar do lugar quando é esperado ficarem sentadas, loquacidade e algazarra excessivas ou inquietação e se remexer.
O padrão para julgamento deve ser que a atividade é excessiva no contexto do que é esperado na situação e por comparação com outras crianças da mesma idade e Ql.
Este aspecto de comportamento é mais evidente em situações estruturadas e organizadas que necessitam de um alto grau de autocontrole de comportamento.
TDAH e seus sintomas
O TDAH é o transtorno de aprendizagem mais comum, ocorre entre 3% a 5% das crianças e adolescentes pelo mundo, sendo que em mais da metade dos casos o transtorno acompanhará o indivíduo também em sua fase adulta, mesmo que de forma mais abrandada.
O principal sintoma é a dificuldade em manter a atenção e/ou ficar quieto, e pode ser identificado observando o comportamento da criança.
Os sintomas podem se manifestar de diversas formas:
- Dificuldade em manter a atenção em atividades demoradas, repetitivas ou que não lhe interessem;
- Estímulos do ambiente externo causam facilmente uma distração, apesar de também haver distração com pensamentos internos, o que causa a impressão de que “estão em outro mundo”;
- São agitados e inquietos, isso se observa desde muito cedo, pois a criança move-se sem parar, mexendo em tudo, agitando mãos e pés e não conseguem parar quietas na cadeira;
- Esquecimentos são frequentes. Esquecem material escolar, recados, ou até mesmo o que estudaram na véspera da prova. e Erros por distração são visíveis, principalmente em provas;
- Propensão a ser impulsivo (respondem uma pergunta sem ler até o final, não esperam a vez, agem antes e pensar…) e Cumprimento de horários e prazos frequentemente são um problema;
- Dificuldade em relação a escala de prioridades, com dificuldade de se organizar e planejar o que precisa ou quer fazer;
- Ao analisar seu desempenho, ele sempre parece inferior ao esperado tendo em vista sua capacidade intelectual.
Como lidar com os distúrbios de aprendizagem?
No processo de aprendizagem escolar é preciso um trabalho conjunto do professor e da família para dar suporte à criança.
Isso pois é através dessa parceria que situações adversas poderão ser identificadas, analisadas e investigadas.
Observar o desempenho, conforme a faixa-etária, tanto no ambiente da escola, quanto em casa torna a avaliação mais eficiente.
Além disso, conhecer os sinais dos principais distúrbios de aprendizagem torna a averiguação de anormalidades mais efetiva.
Após a suspeita, é primordial que seja feita a identificação dos reais motivos das dificuldades na ampliação da aprendizagem.
Com o diagnóstico precoce, o portador de qualquer um desses transtornos pode ter sua vida normalizada, sem maiores prejuízos, mantendo o seu interesse e sua autoestima e autoconfiança em alta.
Por último, vale ressaltar que a criança deve receber apoio de uma equipe multidisciplinar para que o tratamento seja integral e realmente eficaz.
Conclusão
Distúrbios de aprendizagem, muitas vezes, são as causas do estresse que pais e professores enfrentam com crianças que pensam “não serem disciplinadas” ou “não prestam atenção e não se esforçam”.
Por isso, conhecer os sintomas e buscar um diagnóstico correto é essencial para que essas crianças sejam tratadas com respeito e tenham as ferramentas necessárias para superarem suas dificuldades.
Portanto, toda a equipe escolar deve estar alerta aos sinais e buscar a melhor forma de lidar com esses estudantes.
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Referências
AMORIM, Cacilda. Instituto Paulista de Déficit de Atenção. TDAH – O que você precisa saber. BARKLEY, Russell A.Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade( TDAH): guia completo e autorização para os pais, professores e profissionais da saúde.
BERNARDI, J. Discalculia: O que é? Como intervir?
BRASIL. Associação Brasileira de Dislexia. O que é dislexia?.
CONCEIÇÃO, Catarina Vargues. Aprendizagem – processo de aprendizagem.
ELLIS, Andrew. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva.
FARREL, M. Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem específicas.
JOHNSON, Dóris; MYKLEBUST, Helmer. Distúrbios de aprendizagem: princípios e práticas educacionais.
LIMA, Rossano Cabral. Somos todos desatentos?: O TDA/H e a construção de bioidentidades.
SCHWANZ, Jezuina Kohls. Neuropsicopatologias e Neurociências Aplicadas à Educação.
STELLING, Stella. Dislexia. Rio de Janeiro: Revinter, 1994.