O Método Montessori, que existe há mais de 100 anos, representa uma abordagem educacional reconhecida mundialmente, sendo predominante em escolas para crianças nas faixas etárias de 3 a 6 e 6 a 12 anos. O sucesso e a longevidade do método podem ser atribuídos, em parte, à sua adaptabilidade.
Por isso, preparamos este artigo para você entender o poder desse método e quando utilizá-lo. Boa leitura!

O que é o método de ensino Montessori?
O Método Montessori é uma pedagogia distintiva desenvolvida com base em uma abordagem científica de observação e experimentação.
O núcleo do método é um trio dinâmico composto pela criança, o professor e o ambiente. O objetivo principal da educação Montessori é permitir que o desenvolvimento ideal da criança (intelectual, físico, emocional e social) se manifeste plenamente.
Os dois aspectos mais importantes do método Montessori são:
1. Os materiais de aprendizagem: Um conjunto de objetos manipuláveis desenvolvidos para apoiar a aprendizagem de conceitos sensoriais (como cor, dimensão, forma e textura) e conceitos acadêmicos (como alfabetização, matemática, história, ciência e geografia).
2. O engajamento autodirigido: A maneira particular como a criança interage com esses materiais.
A aprendizagem ocorre por meio da exploração ativa, escolha e aprendizagem independente em um ambiente especialmente “preparado”.
Assim, as crianças são encorajadas a aprender ativamente, geralmente trabalhando individualmente, mas também em pequenos grupos ou pares, durante um “ciclo de trabalho” de três horas.
Para o sucesso do método, é fundamental que não haja um sistema de punições ou recompensas extrínsecas (notas ou prêmios).
Quem foi Maria Montessori?
Maria Montessori (1870–1952) foi uma figura extraordinária que se tornou uma das primeiras mulheres a se qualificar como médica na Itália no final do século XIX, especializando-se em psiquiatria e pediatria.
Sua percepção crucial surgiu enquanto trabalhava com crianças com deficiências intelectuais: ela concluiu que, para aprender, essas crianças precisavam de uma pedagogia adequada, e não de tratamento médico.
• Início da Pedagogia: Em 1900, ela começou a desenvolver sua pedagogia como diretora de uma escola Ortofrênica em Roma.
• O Questionamento: Quando seus alunos com deficiência alcançaram o mesmo desempenho em exames que alunos com desenvolvimento típico, ela não aceitou os elogios, mas sim questionou o que no sistema educacional italiano estava impedindo as crianças sem deficiência de atingir seu potencial.
• A Primeira Casa: Em 1907, ela teve a oportunidade de trabalhar com crianças sem deficiência em um projeto habitacional em Roma, onde fundou sua primeira ‘Casa dei Bambini’ (‘casa das crianças’) para a faixa etária de 3 a 7 anos.
• Fundamentos Teóricos: Com base em observações científicas, Montessori defendeu que o desenvolvimento da criança pode ser promovido por meio do engajamento com atividades autodirigidas dentro de um ambiente especialmente preparado. Ela também argumentou que as crianças passam por períodos sensíveis para a aprendizagem e por várias fases de desenvolvimento.
Como aplicar o método Montessori?
A aplicação do método exige fidelidade aos seus princípios e foco no ambiente preparado e no engajamento autodirigido da criança.
Passo a Passo para a Aplicação do Método:
1. Preparação do Ambiente e Implementação do Ciclo de Trabalho
O ambiente preparado (a sala de aula) deve ser projetado para apoiar o desenvolvimento intelectual, físico, social e emocional da criança.
• Implementar o Ciclo de Trabalho Externo (External Work Cycle): Destinar um período de tempo (geralmente 3 horas) durante o qual as crianças têm liberdade para selecionar as atividades, onde trabalhar e por quanto tempo, encontrando seu próprio ritmo de atividade.
• Eliminar Competição e Recompensas: O ambiente não deve promover competição entre as crianças e não deve usar sistemas de punições ou recompensas extrínsecas (como notas).
2. Introdução dos Materiais de Aprendizagem
Os materiais são introduzidos em uma progressão lógica, seguindo os estágios de desenvolvimento da criança.
• Início com a Vida Prática: Apresentar primeiro os materiais de vida prática (como usar utensílios, limpar, polir ou preparar lanches). O objetivo é desenvolver a coordenação motora grossa e fina, o controle olho-mão e introduzir o ciclo de selecionar, iniciar, completar e arrumar uma atividade.
• Foco Sensorial: Em seguida, introduzir os materiais sensoriais, garantindo que cada peça de material isole apenas um conceito para que a criança se concentre (ex: apenas dimensão, como na Torre Rosa, ou apenas som, como nas Caixas de Som).
• Garantir o Controle de Erro: Assegurar que cada material contenha um “controle de erro” que alerte a criança sobre qualquer equívoco. Isso permite a autocorreção com suporte mínimo do professor.
3. Fomentar o Engajamento Ativo e Repetido
A criança aprende através do movimento e da manipulação concreta dos objetos, preparando-se para conceitos mais abstratos.
• Promover o Ciclo de Trabalho Interno (Internal Work Cycle): Incentivar a criança a repetir e escolher o engajamento com o material, incluindo a rotina de pegar o material, utilizá-lo e recolocá-lo em seu lugar original. Esse engajamento repetido e autoescolhido é fundamental para o desenvolvimento da concentração.
• Direcionamento Pedagógico (Do Concreto ao Abstrato): Utilizar materiais concretos para introduzir conceitos abstratos. Por exemplo, na matemática, quantidades e seus símbolos (0 a 10) são introduzidos separadamente antes de serem combinados, sempre por meio de materiais concretos.
4. O Papel do Professor como Guia
Nesse método de ensino, o professor não é o detentor do conhecimento a ser transmitido, mas sim um facilitador e observador.
• Observação Detalhada: As decisões do professor sobre o que ensinar devem ser baseadas em observações cuidadosas das crianças.
• Orientação e Introdução: O professor guia as crianças que têm dificuldade em selecionar materiais ou que estão perturbando outras. Ele é responsável por introduzir novos materiais para as crianças que estão prontas para um novo desafio.
• Sem Cronograma Formal: Embora o professor possa ter planos para o dia, ele é conduzido pelas necessidades dos alunos, e não por um cronograma formal rígido.
5. Aplicação Curricular (Exemplos)
O método Montessori incorpora práticas que, posteriormente, foram comprovadas pela pesquisa educacional mais ampla.
• Alfabetização: O currículo de alfabetização inclui a introdução da escrita antes da leitura, desmembrando as habilidades constituintes (formação de letras, controle do lápis e ortografia) antes que a criança escreva palavras no papel. A fonética é usada de forma sistemática para ensinar as correspondências som-letra.
• Matemática: Os materiais visam fornecer uma fundação sensorial para conceitos matemáticos, como frações (ex: círculos de fração). Atividades como preparar lanches também servem como exercícios práticos para frações.
Conclusão
A educação Montessori, quando implementada de forma fiel aos princípios de sua criadora, demonstrou ser eficaz no desenvolvimento de habilidades sociais e acadêmicas (como leitura, matemática, teoria da mente e função executiva).
Estudos indicam que a fidelidade na implementação é um fator crucial para que os benefícios sejam alcançados.
Classes Montessori de alta fidelidade (que utilizam os materiais e o ciclo de trabalho de 3 horas conforme idealizado) demonstraram ganhos significativamente maiores em medidas como função executiva, vocabulário e leitura, em comparação com classes que complementam o método com materiais convencionais (“supplemented Montessori”).
A pesquisa mais ampla apoia vários elementos-chave do método, como o ensino da alfabetização através de uma abordagem fônica sistemática e o fornecimento de uma base sensorial para a educação matemática.
Além disso, a introdução dos materiais de vida prática em salas de aula convencionais já se mostrou eficaz para apoiar o desenvolvimento do controle motor fino e da atenção em crianças pequenas.