O educador Paulo Freire é criticado, muitas vezes, por quem não conhece bem suas ideias e outras vezes é amado pelos educadores.

Mas como funciona o método Paulo Freire? Quais são as fases desse processo? Veja a resposta para essas e outras perguntas neste artigo! Boa leitura!

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O que é o método Paulo Freire?

O método Paulo Freire, ao contrário do que muitos pensam, não é focado no ensino de crianças, mas sim de adultos. 

Ou seja, o método do Paulo Freire é para a alfabetização de adultos e foi aplicado pela primeira vez em 1963 em um grupo de 300 trabalhadores rurais.

Os resultados foram impressionantes, pois eles foram alfabetizados em apenas 45 dias, sem precisar estudar o dia todo.

Interessante que, falando sobre o próprio método, Freire disse que:

“Eu prefiro chamar de um método de conhecer e não um método para ensinar”

Citação de Paulo Freire sobre seu método de alfabetização

Respeito ao contexto do aluno

A proposta de Paulo Freire parte sempre da perspectiva do aluno, há um grande respeito pelo estudante, seu ritmo e seu contexto. Então, o docente trabalha mais como um organizador de dados para ajudar o aluno nesse processo.

Interessante que, para ele, transmitir conteúdos fora do contexto cultural do estudante é um desrespeito ao aluno, por exemplo, usar um exemplo de algo que a pessoa não conhece. 

Embora não seja focado em crianças, isso pode ser aplicado para a educação dos pequentos também, por exemplo, será que é efetivo usarmos um dromedário, um animal que só existe em zoológicos, para ensinar uma criança uma palavra com a letra D? 

Assim, é mais efetivo usar elementos do cotidiano da pessoa do que coisas que ela não conhece. 

No caso, Paulo Freire utilizou elementos que os trabalhadores conheciam, como: feijão, terra, grama, roça etc.

Rejeição a um material didático universal

Como na metodologia freiriana existe esse foco na perspectiva do aluno, materiais didáticos “universais” não são aceitos.

Isso porque, se um material didático é produzido em massa e colocado para ensinar milhares de alunos, ele não respeita as particularidades e o contexto dos estudantes.

Há estudantes da região rural, da zona urbana, pobres, ricos, enfim, de diversos contextos diferentes, por isso, colocá-los todos para usar o mesmo material é considerado um desrespeito na metodologia freiriana.

Horizontalidade entre professor e aluno

Na teoria freiriana, professor e aluno são sujeitos na construção do conhecimento, ou seja, não há uma hierarquia, não há uma autoridade.

Isso porque, para o método freiriano, o estabelecimento de uma autoridade dificulta o desenvolvimento da criticidade e da conscientização.

É um ato político

Para Paulo Freire, não existe uma educação neutra. É papel do educador fazer com que o aluno reflita sobre a realidade e busque transformá-la. 

“A visão ingênua que homens e mulheres têm da realidade faz dele escravos na medida em que, não sabendo que podem transformá-la, sujeitam-se a ela” – Sonia Colto

Dessa forma, o aprender a ler e a escrever não é dissociado da politização.

Método Paulo Freire sendo aplicado, a foto está em preto e branco e pessoas estão sentadas em uma roda com bancos e cadeiras simples.
Aplicação do Método Paulo Freire em meados de 1960

As etapas do método de alfabetização freiriano

Existem algumas etapas para o sucesso do processo de alfabetização do Paulo Freire. Vale lembrar que essa é uma técnica andragógica, ou seja, focada no ensino de adultos.

Freire coloca 5 fases no livro “Educação como prática da liberdade”, sendo elas:

Fase 1 – Levantamento do universo vocabular

Na primeira fase do método freiriano, um levantamento do universo vocabular é necessário, e, para isso, é preciso fazer uma pesquisa.

Essa pesquisa envolve conhecer os alunos, portanto, desenvolver um relacionamento com eles é importante.

Assim, conhecer as coisas que o aluno gosta, o que ele está acostumado, o ambiente em que vive etc faz parte dessa primeira etapa do processo de alfabetização.

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Fase 2 – Escolher as palavras

Depois de feita a pesquisa, é preciso selecionar as palavras. Para isso, deve-se usar estes critérios:

  • Riqueza fonética;
  • Dificuldades fonéticas, escolhendo uma sequência gradativa;
  • Efeito prático da palavra.

Fase 3 – Criação de situações

Nesta fase da metodologia de Paulo Freire, deve-se pensar em situações problema, ou seja, situações desafiadoras que devem ser resolvidas pelos estudantes.

Além disso, o professor deve ajudar como mediador, mas não resolver os problemas para os alunos.

Fase 4 – Elaboração de fichas-roteiro

Essas fichas devem auxiliar os coordenadores de debates, que podem ser monitores ou alunos com melhor desenvolvimento, a auxiliarem os outros nos debates.

Fase 5 – Elaboração de fichas com a decomposição

Aqui são feitas as fichas com a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras que as geraram. Pode ser feito em forma de cartaz ou flashcards.

É interessante fazer isso para fixar o conteúdo.

A concepção de educador na metodologia freiriana

Para o método Paulo Freire, o professor está em igualdade com o aluno, ambos são agentes na construção do conhecimento.

Dessa forma, não há uma hierarquia e o professor não é uma autoridade, ou seja, não é o detentor de todo o conhecimento.

Isso permite ao aluno um papel de protagonista do conhecimento.

Logo, na educação freiriana, o papel do professor é o de mediador e facilitador, que tem como objetivo incentivar a reflexão crítica e a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem. 

O professor deve atuar como um parceiro dos alunos, ajudando-os a identificar e analisar as questões e problemáticas relacionadas à sua realidade e estimular o aluno a buscar soluções para os desafios encontrados.

Assim, o uso de metodologias ativas de educação se encaixa bem com os ideais do autor.

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Onde é utilizado o método Paulo Freire?

Como o método de alfabetização de Paulo Freire é para adultos, ele ainda é utilizado para o ensino de adultos em algumas escolas que oferecem EJA e programas de alfabetização em cursinhos populares, por exemplo.

Ele não é utilizado no ensino básico, embora suas ideias inspirem muitos professores.

Muitos dos princípios que ele defende não são aplicados na educação brasileira, o que impede a existência de uma “educação freiriana” no ensino básico, já que:

  • Existe um currículo rigoroso a ser seguido, o que vai contra a ideia de se adaptar à realidade e ritmo dos estudantes;
  • O material didático é universal, ou seja, as redes de escolas seguem o mesmo material para todos os estudantes, sendo isso incoerente com a ideia freiriana;
  • O professor não pode abordar as questões políticas abertamente na escola, pois isso gera reclamações dos pais;
  • As salas de aulas lotadas também dificultam o trabalho mais contextualizado;
  • A hierarquia clara que é colocada pelas escolas no ensino básico fere o princípio de horizontalidade de Paulo Freire;
  • As crianças são tratadas como folhas em branco que apenas “absorvem” o conhecimento passado pelos professor, justamente a educação “bancária” criticada pela teoria freiriana. 
  • Por fim, a metodologia dele foi feita para adultos, portanto, não é aplicada a crianças.

Então, o pensamento de grupos como “escola sem partido” e frases de antigos presidentes como “ter que expurgar a ideologia de Paulo Freire da alfabetização” mostram um grande desconhecimento quanto à obra do autor.

Além disso, a BNCC não cita Paulo Freire em nenhum de seus níveis, mostrando que não há grande uso do autor no ensino básico brasileiro.

Conclusão

O método freiriano é um marco na educação, pois revolucionou a forma de ensinar adultos, trazendo um ensino mais adaptado às suas realidades.

Na época, essa metodologia de Paulo Freire foi extremamente relevante, já que cerca de 50% da população era analfabeta.

Hoje esses números são bem menores, mas a educação de adultos ainda é importante, já que o Brasil continua como um dos países com maior número de analfabetismo do mundo. 

Sendo o método Paulo Freire bem antigo, são necessárias revisões e adaptações à cada realidade, como ele mesmo afirmou enquanto estava vivo.

Por isso, vale a pena pegar esses princípios e adaptá-los à atualidade, com o uso de tecnologia e de metodologias ativas, por exemplo.

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Fontes

O método Paulo Freire

Pedagogia da Autonomia

Método Paulo Freire de Alfabetização