Sabemos que a comunicação é uma troca de informações entre dois ou mais interlocutores. Ela é tão presente na nossa rotina que chega a ser complicado de imaginar uma realidade em que não fosse possível nos expressarmos e sermos compreendidos.
No entanto, essa é uma realidade para algumas pessoas que, por terem alguma deficiência ou enfermidade, não conseguem se comunicar de forma eficiente.
Por isso, para essas pessoas, foi criada a Comunicação Alternativa.
Mas o que é Comunicação suplementar alternativa? Para o que exatamente ela serve e quando pode ser aplicada? Como utilizar a Comunicação Alternativa na educação? São essas informações que você vai poder conferir neste conteúdo. Continue com a leitura!
O que é Comunicação Alternativa e Aumentativa?
A Comunicação Alternativa e Aumentativa (AAC, no inglês) é uma das áreas da Tecnologia Assistiva que tem por objetivo a ampliação das habilidades orais e de escrita.
Ela é uma intervenção que faz o uso de sistemas alternativos de comunicação que não sejam vocais, incluindo sistemas de Comunicação Assistida e Não Assistida.
Os sistemas de Comunicação Não Assistida são aqueles que não fazem o uso de materiais ou tecnologias, por exemplo, a linguagem gestual e gestos.
Já a Assistida envolve baixa tecnologia, como a troca de objetos,ou alta, que faz uso de dispositivos de geração de fala ou de aparelhos com geradores de voz como alguns celulares ou tablets.
As metodologias de ensino do uso de Comunicação Suplementar Aumentativa também se incluem nesta categoria e podem englobar também outras práticas baseadas em evidências, como suporte visual, estímulos ou reforço. O que torna possível a educação inclusiva para esse grupo.
A quem se destina a Comunicação Alternativa?
A Comunicação Suplementar Alternativa se destina a pessoas sem fala ou sem escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade de falar e escrever.
Ou seja, são aquelas com paralisia cerebral, deficiência intelectual, deficiência auditiva, autistas, pessoas com sequelas de Acidente Vascular Encefálico, traumatismo craniano, quadros de distrofias, entre outros.
O que fazer quando uma pessoa não é capaz de falar ou escrever? Você deve buscar uma forma alternativa para compreender esse indivíduo.
De início, é preciso observar qual a habilidade que a pessoa tem de apontar, de responder pelo olhar, realizar movimentos com a cabeça, emitir algum som ou fazer algum gesto. A partir disso, é possível pensar em uma Comunicação Assistiva que funcione para ela.
Em relação à Comunicação Alternativa Escrita, deve-se observar se a pessoa tem a capacidade de escrever, mesmo com uma letra ampliada, se ela é capaz de marcar alguma resposta ou usar um sistema alternativo de escrita como um teclado ampliado para pensar em formas que a atendam bem.
Então, pode-se perceber que ela deve ser feita de forma personalizada para que seja utilizada da melhor forma possível.
Como fazer o uso da Comunicação Alternativa?
A Comunicação Alternativa Ampliada compreende um conjunto de símbolos, de recursos, de estratégias e de técnicas que podem ser utilizados para a ampliação ou substituição da comunicação oral ou escrita.
Símbolos
São representações visuais, auditivas ou táteis de um conceito. Podem ser usados diferentes tipos de símbolos: objetos, fala, gestos, alguns sinais da linguagem de sinais, fotografias, pictogramas ou a escrita. Como pranchas de comunicação alternativa com imagens.
Lembre-se que, quando utilizamos a linguagem de sinais, nós estamos falando uma outra língua, mas quando utilizamos somente alguns dos sinais, eles podem fazer parte do nosso repertório de Comunicação Suplementar Aumentada.
Símbolos pictográficos
Os símbolos pictográficos mais utilizados no Brasil são os Picture Communication Symbols (PCS) e os símbolos do portal Arasaac, que foram desenvolvidos pelo Portal Aragonês de Comunicação Alternativa e Aumentada, estão traduzidos para o português do Brasil e podem ser utilizados gratuitamente.
Existem etapas para o aprendizado de símbolos. O mais fácil de ser compreendido é o próprio objeto. Depois a miniatura, seguida por fotografias, desenhos coloridos, desenho em preto e branco, símbolos pictográficos e pela palavra escrita.
Recursos
Uma pessoa pode se comunicar de maneira alternativa sem utilizar nenhum auxílio externo com gestos, sons, expressões faciais e corporais. Os recursos mais utilizados por elas são:
- Os próprios objetos, mais utilizados com crianças;
- Os cartões de comunicação. Com eles, é possível organizar ações de conversação com mais ou menos elementos. Muito utilizados no início da implementação da Comunicação Alternativa e Aumentada;
- Os cadernos ou pranchas de Comunicação Alternativa com símbolos soltos e que podem estar associados a tiras de mensagens;
- As pranchas de comunicação em pastas que abrem e permitem que a pessoa converse utilizando sujeitos, verbos, substantivos, adjetivos e outros complementos para a formação de sentenças;
- O Eye Gaze, que é uma estratégia de comunicação pelo olhar;
- Os comunicadores de voz gravada, com poucas mensagens, ou comunicadores com 32 mensagens e até 5 níveis de gravação;
- Os tablets com app de Comunicação Suplementar Alternativa ou smartphones, e
- Os computadores com software communicator ou software speaking dynamically como recurso alternativo de comunicação escrita ou oral.
Estratégias
O trabalho da Comunicação Alternativa não caminha se ele não tiver boas estratégias. Elas são as brincadeiras e as atividades escolhidas para implementar a AAC, que podem começar com brincadeiras de faz de conta, criando cidades de brinquedos, interpretando histórias ou deixando a pessoa escolher músicas no celular ou em um tablet.
Autismo e Comunicação Alternativa
Há crianças, jovens e adultos que não são bons comunicadores, não conseguem falar ou têm um discurso pouco perceptível. É o caso de algumas pessoas com autismo, dependendo do nível.
Por isso, usar Comunicação Alternativa com quem tem autismo ou qualquer grande dificuldade comunicativa traz alguns benefícios:
- Melhor desenvoltura da criança – já que se comunicar a dá mais confiança também;
- Potencializa o desenvolvimento cognitivo – pois se comunicar é chave para isso;
- Acalma a pessoa – uma vez que ela consegue ser entendida e se expressar com mais facilidade, evitando o estresse;
- Proporciona inclusão na educação.
Pela preocupação com esse grupo, foi criado o sistema PECS, justamente como um sistema alternativo de comunicação para facilitar o ensino, a interação e a vida dos autistas e tutores.
Por tal razão, muitas vezes, ele é conhecido como PECS autismo ou PECS tea, mas pode ser utilizado para qualquer pessoa com problemas de comunicação. Vamos comentar sobre ele no próximo tópico.
Sistema PECS
pecs-brazil.com
PECS significa, em inglês “Picture Exchange Communication System”, e, em português “Sistema de Comunicação por troca de figuras”. O objetivo dele é melhorar a capacidade física, cognitiva e comunicativa de pessoas autistas, um sistema aumentativo e alternativo da comunicação.
Ele foi criado nos Estados Unidos por Andy Bondy e Lori Frost na década de 80 e, atualmente, o PECS é usado em todo o mundo.
Atualmente, ele tem sido implementado em diferentes patologias: autismo, trissomia 21, paralisia cerebral, dispraxia, traumatismos cranianos e outras perturbações do desenvolvimento em pessoas de todas as idades.
Durante a sua implementação, as crianças, jovens ou adultos aprendem a comunicar com recursos e imagens. O sistema PECS segue um protocolo rigoroso e pormenorizado em 6 fases que você poderá conferir a seguir.
As 6 fases de implementação de PECS
O PECS permite que crianças, jovens e adultos se comuniquem com as pessoas que os rodeiam, que façam pedidos, respondam perguntas e comuniquem suas necessidades em casa, na escola, no parque, em um hospital ou em qualquer outro ambiente.
Fase I: Como comunicar
O treinamento tem início com um parceiro de comunicação apresentando uma figura de um objeto desejado. O aluno segura a figura em troca do item que foi pedido e o parceiro de comunicação entrega o item nomeando ele.
Para ensinar essa fase, são necessários dois adultos e não há necessidade de discriminar figuras.
Fase II: Distância e Persistência
As pessoas aprendem a fazer generalizações sobre a troca enquanto se deslocam até o parceiro, além do uso da pasta de comunicação alternativa em lugares diversos e com diferentes pessoas.
Aqui, as figuras também são usadas e não precisam de discriminação. A pasta de comunicação com tiras e alças começa a fazer parte do PECS.
Fase III: Discriminação de Figuras
As pessoas aprendem a escolher duas ou mais imagens da sua pasta de comunicação para pedir seus objetos favoritos. A discriminação começa a ser realizada com duas imagens, uma delas representando um objeto que é muito desejado e a outra representando algo que não é desejado.
O ensino deve ser sistemático e ir se expandindo para várias figuras que representem aquilo que está sendo solicitado.
Fase IV: Estrutura da Sentença e Atributos e Expansão da Linguagem
A Fase IV é subdividida em duas fases: Estrutura da sentença e Atributos e Expansão da Linguagem.
Estrutura da Sentença
Na primeira delas, Estrutura da sentença, os sujeitos aprendem a formar frases simples em uma tira de sentença que pode ser destacada.
Da tira, pode ser retirada uma figura “Eu quero” seguida pela imagem do item que estiver sendo desejado.
A construção e a troca de uma sequência de duas imagens deve se iniciar com o aluno colocando a imagem do que deseja na tira. Depois, sendo ensinado a usar a figura do “Eu quero” e, em seguida, a apontar para a tira de sentença.
É o parceiro de comunicação que deverá ler a tira. A fala não deve ser exigida nessa fase, ainda que possa ser estimulada. Se houver alguma tentativa por parte do aluno, estratégias de reforço diferencial podem ser usadas.
Expansão da Linguagem
Os alunos aprendem a aprimorar suas frases adicionando adjetivos, verbos e preposições. Os conceitos ensinados devem ter base em algo que seja importante para os alunos, algo que eles gostem, por exemplo.
Quando o ensino é contextualizado, ele é muito mais efetivo.
Fase V: Respondendo a perguntas
Nessa fase, o aluno aprende a responder perguntas que questionam o que ele deseja. É perguntado a ele “o que você quer?”, seguido de uma dica gestual.
Com o tempo, a dica vai sendo eliminada e novas perguntas vão sendo ensinadas, sem que a espontaneidade das fases anteriores seja deixada de lado.
Fase VI: Comentário
Os alunos aprendem a comentar suas respostas a perguntas como “o que você vê?” ou “o que você sente?”.
O objetivo da Fase VI é fazer com que os alunos consigam comentar sobre o mundo ao redor. Nela, devem ser usados materiais de interesse dos alunos que sejam capazes de proporcionar diversão.
Como fazer uma prancha de Comunicação Alternativa
Para produzir um recurso de Comunicação Alternativa e Aumentativa, como a placa de Comunicação Suplementar Alternativa, é preciso um sistema de imagens que sirva para representar conceitos ou ideias de forma verbal ou visual.
Para isso, deve-se utilizar os símbolos gráficos sobre os quais comentamos anteriormente.
Eles precisam ter uma identificação própria de forma que possam ser agrupados de acordo com o que eles representam.
A prancha pode ser feita com uma pasta do tipo arquivo ou algum outro tipo de material que você ache interessante e prático.
Cada página deve ser colocada em um saco plástico transparente e representar uma temática, como animais, cores ou verbos, por exemplo.
Para encontrar símbolos que possam ser utilizados em casa, no trabalho ou na escola, podemos contar com diversas ferramentas gratuitas e pagas.
São exemplos de sites de tecnologia assistiva em que você pode encontrar os símbolos e todas as ferramentas necessárias para a confecção de uma prancha de comunicação:
- Portal ARASAAC;
- Expressia;
- Global Symbols;
- Board Builder, e
- Mind Express.
Dependendo do nível e das necessidades do estudante, você também pode utilizar imagens encontradas em sites gratuitos como o pexels.
Vantagens do uso de pranchas de Comunicação Alternativa na educação
As placas de Comunicação Alternativa Ampliada são uma das melhores alternativas para proporcionar uma educação mais inclusiva nas instituições de ensino. Isso, pois, além de serem eficientes, são simples de serem feitas e aplicadas.
Além disso, a metodologia PECS foi construída com base em evidências e, de fato, ajuda a promover a interação social. Portanto, ao utilizá-la, estará aplicando um recurso assistivo muito confiável.
Na educação, é necessário o curso de PECS para que elas sejam aplicadas de maneira responsável e eficiente.
Embora o PECS tenha sido criado para o autismo, ele se amplia para várias áreas, podendo ser aplicado para qualquer aluno com grandes dificuldades de comunicação.
Felizmente, ele pode ser encontrado gratuitamente na internet. Ainda assim, é importante que os professores tenham uma formação continuada nessa área para que possam utilizá-lo da melhor forma.
Conclusão
É cada vez mais urgente e necessário estruturarmos ambiente escolares para de fato haver inclusão.
Implementar um sistema de Comunicação Alternativa pode ser um grande passo rumo a uma sociedade mais acolhedora e democrática.
Se você chegou até aqui, é bem provável que você seja uma pessoa bastante interessada em assuntos sobre educação e inclusão, certo?
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