A pandemia de covid-19 amplificou muitos dos problemas sociais enfrentados no Brasil, e um dos sintomas que atingiram em cheio a educação no país foi o aumento da evasão escolar.
Chamamos de evasão escolar quando o estudante, por algum motivo, deixa de ir às aulas, abandonando a escola durante o ano letivo e não retornando para se matricular no ano seguinte.
A evasão escolar já era um problema nas escolas brasileiras, mas se tornou ainda mais alarmante com o aumento nos índices de desigualdade, desemprego e violência doméstica no período da pandemia.
Neste artigo, vamos discutir as razões para o aumento na evasão escolar no Brasil, suas consequências para o país e levantar algumas alternativas para reduzir os prejuízos na aprendizagem dos estudantes.
Qual é o cenário da evasão escolar no Brasil?
Antes da pandemia, a evasão escolar já era um problema que afetava uma boa parcela da população brasileira.
De acordo com a PNAD Contínua 2019, pesquisa realizada pelo IBGE, 20,2% das pessoas de 14 a 29 anos do país, cerca de 10,1 milhões, não haviam completado alguma das etapas da educação básica.
Os dados revelam que o abandono escolar é ainda maior entre pessoas pretas ou pardas (71,7%) e nas regiões Norte e Nordeste do país.
A transição do ensino fundamental para o médio acentua ainda mais a evasão escolar. A PNAD 2019 mostrou que, nos alunos de 14 anos, o abandono nas escolas girou em 8,1%, aumentando para 14,1% aos 15 anos.
Após um ano de restrições causadas pela pandemia, o cenário é ainda mais desolador. Segundo dados da Unicef, 3,8% dos estudantes com idade entre 6 e 17 anos abandonaram as escolas em 2020, aproximadamente 1,38 milhões de pessoas.
Os dados são maiores do que a média da PNAD do ano anterior, que registrou um percentual de 2% dos estudantes.
Além dos estudantes que não frequentavam a escola, 4.125.429 estudantes afirmaram frequentar a escola, mas não tiveram acesso a atividades escolares. A estimativa é que mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso à educação em 2020.
Qual a diferença entre abandono e evasão escolar?
Usado muitas vezes como sinônimo, os termos abandono e evasão escolar tem efeitos práticos diferentes.
O abandono escolar acontece quando um estudante deixa de ir às aulas durante o ano letivo, por qualquer motivo que seja. O efeito direto é a reprovação ou baixo desempenho acadêmico.
Mas quando o aluno, após abandonar a escola, não retorna e não se matricula no ano letivo seguinte, consideramos o caso como evasão escolar. Esses jovens, reprovados ou não, desistem de continuar os estudos e entram na vida adulta sem concluir o ensino básico.
Quais os motivos que levam a evasão escolar?
Existem muitos fatores de risco que contribuem para o abandono escolar e a consequente evasão nas escolas, ainda mais em um país com altas taxas de desigualdade como o Brasil. Entre os motivos, podemos citar:
- Dificuldade de acesso à escola;
- Falta de supervisão dos pais;
- Desinteresse nas aulas;
- Qualidade da escola;
- Repetência;
- Gravidez na adolescência;
- Dificuldades de aprendizagem;
- Trabalho infantil;
- Necessidade de ajudar na renda da casa;
- Problemas financeiros na família.
O cenário encontrado durante a pandemia, porém, trouxe outro agravante que aumentou a evasão nas escolas: o acesso à internet e a inclusão digital.
Segundo dados da última PNAD Contínua TIC, 17,3% dos domicílios nacionais não possuíam acesso à internet em 2019, cerca de 36,5 milhões de pessoas.
Considerando que o ensino remoto foi adotado pela maioria das escolas, podemos ver outro gargalo. A PNAD mostrou que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas afirmaram não ter computador em casa, e 21% têm acesso à internet apenas pelo celular.
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Da falta de equipamentos ao despreparo para o uso de ferramentas virtuais, a comunidade escolar empenhou grandes esforços para garantir a realização de atividades escolares e diminuir o déficit de aprendizagem.
No entanto, a dificuldade de acessar o conteúdo das aulas e a necessidade de contornar as dificuldades financeiras impostas pela crise da pandemia levaram muitos alunos a desistirem das aulas em 2020.
Consequências da evasão escolar a longo prazo
A evasão escolar traz uma série de consequências para a vida do estudante e para a economia como um todo. O adulto que abandona a escola tem menos chances de conseguir emprego, recebe salários menores, além de afetar a sua autoestima.
Como o abandono escolar está mais concentrado na população negra e periférica, a evasão também tem o efeito de reduzir a presença desses grupos em universidades, empresas e espaços de poder e amplificar as desigualdades regionais.
A longo prazo, a evasão escolar também tem consequências profundas na economia. A exclusão social e o despreparo aumentam os índices de desemprego, concentração de renda e precarização do trabalho.
Como evitar a evasão escolar causada pela pandemia?
Ao falar sobre evasão nas escolas, é importante lembrar que a educação é um direito de todo cidadão, garantido pela constituição brasileira de 1988, e é dever do Estado preservá-la.
Com isso em mente, garantir a permanência dos estudantes na escola deve estar na pauta dos entes federativos, independente de quem esteja no governo.
Durante a pandemia de covid-19, muitos estudantes tiveram o direito à educação negado, seja por falta de condições de acessar o conteúdo no ensino remoto, seja pela necessidade de distanciamento social.
Também vale refletir sobre o perfil dos estudantes que foram mais afetados. Enquanto as escolas privadas e famílias mais ricas conseguiram oferecer condições para que os alunos continuassem estudando, o cenário nas escolas públicas é bem diferente.
Por isso, pensar no combate à evasão escolar está diretamente ligado à aplicação de políticas públicas educacionais eficientes, que promovam condições de acesso às tecnologias educacionais e a internet, além de medidas de segurança que garantam a saúde de alunos e professores.
Selecionamos algumas propostas que permitem visualizar alternativas de combate à evasão escolar durante e após a pandemia.
Investir em intervenções pedagógicas
As intervenções pedagógicas são formas de evitar que as dificuldades de aprendizagem virem problemas maiores para os estudantes no futuro.
Elas acontecem por meio de estratégias e abordagens educacionais que ajudam o aluno a absorver o aprendizado de forma diferenciada. A intervenção pedagógica traz benefícios como:
- Aumenta o engajamento nas aulas;
- Aproxima a comunidade escolar;
- Melhora o desempenho do estudante;
- Reduz desníveis de aprendizagem.
Promover ações de combate ao desnível educacional, como aulas de revisão, reforço escolar e tutoria online, oferecem alternativas para que o aluno aprenda, aumentando seu interesse pelas aulas e sua autoestima.
Confira nosso artigo com 9 propostas de intervenção pedagógica para aplicar no ensino presencial e remoto.
Promover o protagonismo do aluno
O desinteresse pelas aulas que consequentemente leva a evasão escolar está ligado a métodos tradicionais, nos quais o estudante assume um papel passivo no processo de ensino.
As metodologias ativas de aprendizagem, que colocam o aluno no centro da construção do aprendizado, são alternativas fundamentais para aumentar o interesse nas aulas e contribuir para melhorar os índices de abandono escolar.
Dessa forma, procura-se engajar os estudantes com atividades que envolvem a resolução de problemas, trabalhos em grupo e outras ações que estimulam o pensamento crítico.
De forma ativa, os estudantes desenvolvem a colaboração, as habilidades socioemocionais, melhoram o relacionamento com os colegas e a capacidade de expressar o que pensam.
Conhecer a realidade do estudante
Até agora falamos sobre os aspectos pedagógicos que envolvem a evasão escolar, mas questões socioculturais são fundamentais para entender esse problema.
Em comunidades mais pobres, a evasão escolar está muito ligada à necessidade de ajudar na renda familiar, com jovens que começam a trabalhar cedo, e com a gravidez precoce, no caso das meninas.
Compreender a realidade na qual a escola está inserida e promover ações de informação que ajudem a aumentar o entendimento sobre a importância da educação podem ser formas de contribuir para a redução da evasão nas escolas.
Esse processo deve ser acompanhado pela gestão escolar, aproximando-se das famílias dos alunos e entendendo os motivos que levam a redução da frequência escolar.
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A gestão escolar democrática é essencial para promover esse debate, e atividades como reuniões, conselhos de classe e o desenvolvimento de um projeto político pedagógico claro e acessível são fundamentais.
Capacitar professores para a educação digital
Adotar o ensino remoto emergencial fez com que muitos professores precisassem reaprender a ensinar.
Segundo a pesquisa TIC Educação, 53% dos professores afirmaram que a falta de capacitações específicas para o uso de tecnologias nas aulas foi uma grande dificuldade nas aulas remotas.
Esse mesmo levantamento apontou que, antes da pandemia, apenas 14% das escolas públicas dispunham de ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem.
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Investir na capacitação desses professores não só valoriza o profissional como estimula que os benefícios do ensino digital sejam passados também para os alunos.
Porque a tutoria online reduz os riscos de evasão escolar?
Como discutimos neste artigo, medidas de intervenção pedagógica podem ajudar a reduzir os riscos que levam à evasão escolar, por oferecer para os alunos alternativas para reduzir o déficit de aprendizagem causado pela pandemia.
A tutoria online é uma atividade de reforço escolar que utiliza meios digitais, como celular ou computador, para colocar o estudante em contato com tutores especialistas.
O objetivo da tutoria online é promover um atendimento personalizado e rápido, no qual o estudante pode solucionar suas dúvidas na hora que elas aparecem. Tomando protagonismo da aprendizagem com ajuda da escola.
Para utilizar plataformas de tutoria online, como o TutorMundi, o aluno precisa apenas de um celular e de conexão com a internet. Em contato com outra pessoa, o aluno pode buscar a melhor forma para compreender o conteúdo.
O benefício que a tutoria traz para o processo de ensino aprendizagem não se limita à resolução de questões.
De acordo com estudo do MIT, ao utilizar estratégias de aprendizado 1 para 1, o aluno pode apresentar um desempenho 98% melhor do que o obtido apenas com aulas regulares.
Embora enfrentemos grandes desafios no acesso à internet e à inclusão digital, alternativas de tutoria podem ser mais baratas do que disponibilizar professores para todos os alunos.
Conclusão
Os prejuízos que a pandemia trouxe para a educação brasileira vão estar presentes por muitos anos. Embora haja um esforço para reduzir o déficit educacional, os fatores sociais e econômicos contribuem para um constante desequilíbrio nos índices de evasão escolar.
Buscar alternativas para promover uma educação mais justa e igualitária é um dever emergencial, e lutar contra a evasão nas escolas em tempos de crise pode ajudar a salvar muitas vidas, mesmo quando a crise sanitária passar.
Fontes
Enfrentamento da cultura do fracasso escolar
Pandemia aumenta evasão escolar, diz relatório do Unicef
PNAD Educação 2019: Mais da metade das pessoas de 25 anos ou mais não completaram o ensino médio
Um em cada 4 brasileiros não tem acesso à internet, mostra pesquisa
Guia sobre abandono e evasão escolar: um panorama da educação brasileira