Mas como esteve saúde mental dos professores na pandemia? Nunca um evento trouxe tantos impactos para a rotina de tantas pessoas, com reflexos na relação com os amigos, com a família e, de certo modo, na própria liberdade.
Neste artigo, vamos entender como esteve saúde mental dos professores em tempos de pandemia, como está hoje como a gestão escolar pode contribuir para melhorar o bem-estar nas escolas.
Como está a saúde mental dos professores?
A sobrecarga e o sofrimento mental dos professores não é um problema exclusivo da pandemia.
Uma pesquisa realizada em 2018 com professores da rede pública do Paraná mostrou que 70% dos entrevistados enfrentavam a ansiedade, 44% tinham depressão e 75% relatavam conviver com distúrbios psíquicos menores.
Realizado com 1.021 professores, o estudo também concluiu que a incidência dos sintomas era maior entre pessoas do sexo feminino e entre quem precisa levar trabalho para casa. Em todos os casos, o sofrimento mental tinha relação com as condições de trabalho.
Durante a pandemia, o ensino remoto emergencial aumentou a carga de trabalho. Muitos professores precisaram se adaptar a um formato online, sem a capacitação e os recursos necessários.
Tais fatores, aliados à cobrança dos pais e gestores e ao sofrimento de conviver com uma doença que vitimou milhares de pessoas no país, contribuíram para gerar problemas na saúde física e mental dos professores.
A pesquisa Retratos da Educação na Pandemia, realizada pelo Instituto Península revela que, para mais da metade (56%) dos docentes consultados, houve algum tipo de mudança na situação de trabalho devido à crise do coronavírus.
Essas mudanças se refletem principalmente na redução de salário e aumento na carga horária.
Quais os fatores que fragilizam a saúde mental dos professores?
Em entrevista para a Revista Educação, a pesquisadora Deise Juliana Francisco, integrante do grupo de pesquisa Saúde mental, ética e educação, da Universidade Federal de Alagoas, trouxe alguns pontos para uma melhor compreensão do estado da saúde mental dos docentes.
Deise chama atenção para o tabu relacionado ao adoecimento mental. “Muitos professores não aceitam ou divulgam o CID de transtorno psiquiátrico, para não ficarem estigmatizados na escola, para não serem chamados de loucos”, comenta.
Na entrevista, a pesquisadora também aponta o fato de que, segundo a Organização Internacional do Trabalho, a categoria docente é a segunda a apresentar doenças ocupacionais. Nesse cenário, os sintomas psiquiátricos são muito representativos.
“O trabalho docente tem passado por uma precarização e desvalorização crescente por parte da sociedade, com reflexos em baixos salários, grande carga horária de trabalho e muitas tarefas para realizar nos momentos de lazer. Aliado a isto, cresce o número de funções delegadas aos professores, que antes eram da família ou de outros profissionais. No contexto da pandemia, esta situação se torna mais visível”, comenta.
Entre os fatores que contribuem para fragilizar a saúde mental dos professores na pandemia, destacamos:
- Desvalorização da classe trabalhadora;
- Controle das aulas online;
- Despreparo para usar as TICs;
- Despreparo pedagógico para o ensino on-line;
- Gestão escolar ausente;
- Fragilidade nas relações pessoais;
- Tempo para descanso escasso;
- Exigências e cobranças de performance.
Como identificar os sinais de adoecimento mental?
Para reduzir os danos causados pelas doenças mentais, é importante identificar os sinais antes que elas se transformem em problemas maiores.
O diagnóstico precoce permite encontrar meios de agir e oferecer ajuda para as pessoas que enfrentam algum sofrimento.
Segundo uma cartilha divulgada pelo SINESP – Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo, a busca por ajuda é recomendada quando o educador:
- Perceber que não consegue pensar em alternativas, se sente paralisado(a) frente às dificuldades e tarefas diárias e/ou sente uma enorme angústia e falta de esperanças.
- Identificar comportamentos compulsivos, seja no consumo de alimentos, de álcool e outras drogas, de redes sociais ou mesmo de jogos e noticiários.
- Sentir dificuldades em lidar com suas emoções, se machuca e machuca os outros.
- Sentir tristeza muito frequente ou intensa.
- Não encontrar forças para realizar atos básicos de autocuidado, como comer ou se levantar da cama.
Às vezes esses sintomas aparecem em menor grau, o que é normal em situações de crise ou estresse. No entanto, sua recorrência pode ser um sinal de alerta. Nesse caso, o professor pode contar com a ajuda profissional.
Como a escola pode contribuir para a saúde mental dos professores?
O desgaste emocional dos professores é um sintoma que traz consequências graves para a vida do profissional e deve ser visto como uma questão de saúde pública.
Em um contexto de pandemia, é necessário entender que a problemática relacionada à saúde mental não é pessoal, mas sim um problema social que demanda ações coletivas.
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Para manter colaboradores engajados e satisfeitos, a gestão escolar precisa estar atenta e oferecer recursos para reduzir os gatilhos que atacam a saúde mental. Confira algumas ações que podem ser tomadas para reduzir o adoecimento mental de professores.
Oferecer capacitação e ferramentas adequadas
Segundo o estudo Retratos da Educação na Pandemia, 49% dos professores afirmaram que falta formação para lidar com desafios do ensino remoto, enquanto 46% alegaram falta de conhecimento das ferramentas virtuais.
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Para enfrentar os desafios da pandemia, fortalecer essas habilidades é crucial para apoiar o trabalho docente e recuperar o aprendizado dos alunos.
Cabe a gestão escolar estimular e oferecer cursos preparatórios que capacitem o docente a utilizar as ferramentas e recursos digitais, como computadores, além de ajuda para custear o gasto com energia e internet.
Estimular bem-estar físico e emocional
É importante que a gestão escolar estimule que os professores busquem formas de trabalhar a saúde mental e ajude a quebrar o preconceito com doenças psicológicas.
Para isso, campanhas de conscientização sobre os benefícios do atendimento psicológico e psiquiátrico podem ser veiculadas pela escola, com o objetivo de comunicar a comunidade escolar sobre a necessidade de encarar o problema de frente.
Práticas esportivas e atividades de relaxamento, como meditação e yoga, também podem ajudar a desenvolver habilidades socioemocionais e o bem-estar físico, além de contribuir para a interação e o convívio entre os professores.
Lembrando que essas atividades podem ser realizadas remotamente, sem a necessidade de exposição e risco para a saúde dos envolvidos.
Otimizar o diálogo com as famílias
A participação da família é fundamental para que a gestão, professores e comunidade escolar coloquem as expectativas e objetivos na mesma página.
Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo Itaú Social e Imaginable Futures mostrou que a pandemia fez com que as famílias valorizassem ainda mais o papel do professor.
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Segundo o estudo, 71% dos responsáveis pelos alunos passaram a valorizar mais o trabalho dos docentes, enquanto 94% acham muito importante que os professores estejam disponíveis para correção de atividades e esclarecimento de dúvidas no ensino remoto.
Através de conselhos de classe e encontro com os pais, os professores podem alinhar a comunicação e entender melhor o contexto e as cobranças das famílias, contribuindo para humanizar as relações fragilizadas pelo distanciamento.
No entanto, essa cobrança deve respeitar o espaço do professor. Estabeleça para alunos e familiares quais momentos o professor estará disponível para responder às dúvidas dos alunos, evitando sobrecarregar o docente.
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Construir redes de apoio
O atendimento psicológico não é totalmente efetivo se as circunstâncias que criaram o sofrimento não forem tratadas. Para entender o contexto, a comunicação é fundamental.
Oficinas, eventos e reuniões são indicadas para construírem espaços em que os professores possam se expressar. Nesse momento, a união entre os professores é muito positiva.
Provavelmente o grupo está enfrentando as mesmas dificuldades. Manter uma rede de apoio social permite encontrar ajuda e oferecê-la quando puder.
Adotar a tutoria online
Uma alternativa para reduzir a sobrecarga de trabalho dos professores e melhorar o desempenho dos estudantes é a tutoria online.
Através de tutores especialistas, a tutoria online atua como um reforço escolar digital, oferecendo atendimento personalizado e individual na hora que o estudante precisa e diminuindo a sobrecarga do professor.
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O professor ganha mais tempo para se dedicar a atividades pedagógicas enriquecedoras, enquanto os alunos solucionam suas dúvidas no tempo que precisam para aprender.
Com tutores das principais universidades do país, o TutorMundi oferece tutoria online em tempo real, sempre que o aluno precisar, e contribui para melhorar o aprendizado de milhares de estudantes em todo o Brasil.
Conclusão
Como vimos neste artigo, a saúde mental dos professores na pandemia encontrou alguns fatores que aumentaram as dificuldades já vivenciadas pelos docentes.
Mais do que estimular atividades e acompanhamento psicológico, a gestão escolar pode oferecer recursos e suporte ao trabalho dos professores que também melhorem o desempenho dos estudantes.
Em tempos de pandemia, encarar os problemas de frente requer coragem e disposição para acabar com preconceitos e tabus que adoecem milhares de pessoas todos os anos.
Fontes
Sofrimento mental de professores do ensino público
Cartilha de apoio à saúde mental do(a) professor(a) durante a pandemia de covid-19
Pandemia faz famílias valorizarem mais os professores
RETRATOS DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Professores: saúde mental fragilizada e a desvalorização como regra